Resumo |
Esse texto objetiva analisar como os textos das mídias digitais podem apontar, discutir, evidenciar, aclarar, ou naturalizar discursos hegemônicos que tratam da (ou formam a) identidade de gênero de Tereza Brant. Pretende-se analisar não só como o corpo masculino de Tereza é representado e reformulado na mídia digital brasileira por meio de notícias a respeito da jovem, mas também como ela se representa, e como a identidade de gênero é representada. Este trabalho se dará à luz da Análise do Discurso Textualmente Orientada (FAIRCLOUGH, 2001; 2003), a partir das categorias do significado identificacional: modalidade, metáfora e avaliação (FAIRCLOUGH,2003), contando com a colaboração do Sistema de Avaliatividade (WHITE, 2004),abordando também questões políticas sobre o gênero problematizadas por Judith Butler (2006, 2010), nos estudos Queer . O corpus se compõe de três textos noticiosos de diferentes jornais online, circulados no período de 2013 a 2014. A delimitação se deveu à busca por notícias que contemplassem o momento em que Tereza surge na mídia. As análises apontam para representações do corpo trans a partir de léxicos como “transformação”, “processo”, “mudança” “se tornar homem” e também como um instrumento que Tereza usa para ter fama. Ela é representada como uma celebridade, sua identidade é formada pela sua origem, sua idade e seu status social. Sua identidade de gênero é geralmente respeitada, no entanto não existem menções a termos como “trans”, “transgênero”, “transex”, “transfobia”, que orientariam para discussões sobre o gênero. Desse modo, foi possível perceber que os veículos midiáticos não evidenciam, aclaram ou discutem questões de gênero, que são representadas somente sob o viés do corpo físico. As relações de poder se constituem de forma a privilegiar as construções hegemônicas sobre o corpo. O tratamento deste tema sensível opera efeitos causais negativos a respeito dele, uma vez que as mídias acentuam, por meio de seus julgamentos, avaliações e apreciações, concepções engessadas sobre o gênero. Os dados analisados sugerem que a representação do corpo trans pauta-se ainda em discursos que o compreendem de forma naturalizada e hegemônica o viés anatômico e fisiológico; o cenário político das questões trans é pouco lembrado e as construções socioculturais e históricas estão apagadas. Os veículos midiáticos reconhecem a existência do corpo trans, mas não se pode dizer que há o propósito de fomentar a consciência crítica e o respeito do leitor às Outridades. |