Resumo |
Partindo do pressuposto de que não se pode falar de qualquer coisa em qualquer lugar, premissa que se encontra em a Ordem do Discurso (Foucault, 2006), é possível afirmarmos que um determinado objeto - como o conjunto de enunciações sobre o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) - existe sob condições "positivas", na dinâmica de um feixe de relações, e que há condições de aparecimento histórico de seu discurso. No ano de 2009, o Ministério da Educação (MEC) reformulou o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) organizando a prova em novas competências e usando-a, desde então, como processo seletivo para diversas universidades federais do país. Nesse sentido, o MEC passou a divulgar e defender o modelo reestruturado, chamado desde então de “Novo ENEM” como veículo para o “resgate da qualidade do ensino médio público” e meio para democratizar as oportunidades de entrada dos estudantes de todo o país nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Esse discurso, veiculado através de campanhas oficiais em diferentes suportes, torna-se um interessante objeto de análise na medida em que expande as possibilidades de algo que, apesar de se apresentar como uma prova, é caracterizado pelo governo como política pública capaz de reduzir desigualdades, uma vez que se vale da idéia de democratização em garantir igualdade no acesso de “todas as coisas para todos os homens”. Com o objetivo de analisar a construção do objeto "Novo ENEM" em discursos de campanhas oficiais desde que a reformulação foi efetuada, a análise buscou caracterizar o discurso e entendê-lo com os diferentes propósitos que ele apresenta nas diversas comunidades discursivas, principalmente, na esfera social. Como corpus, foram selecionados uma publicidade televisiva do Exame em 2009 e um documento do MEC enviado à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) caracterizado como proposta para que essas instituições aceitassem o ENEM como vestibular. A base teórico-metodológica para a construção da análise foi ancorada nos pressupostos do modelo tridimensional do discurso de Fairclough (2003) dentro da Análise Crítica do Discurso. Nesse sentido, a materialidade lingüística analisada proporcionou a verificação de um discurso que vai muito além da constatação da reformulação de um Exame Nacional. Foi possível observar, dessa maneira, que a construção do objeto discursivo Novo ENEM atribui constantemente ao exame o caráter de instrumento de transformação social e educacional, extrapolando o aspecto descritivo que cumpriria o propósito comunicativo do corpus selecionado. |