Resumo |
As leishmanioses são zoonoses que estão entre as doenças mais relevantes e emergentes em todo o mundo. A Organização Mundial de Saúde estima que 350 milhões de pessoas estejam expostas ao risco de serem infectadas e cerca de dois milhões de novos casos ocorrem anualmente. Quando se analisa a evolução da LT no Brasil, é perceptível uma expansão geográfica. No início da década de 80, 19 das 26 Unidades Federadas (UF) do país registravam casos, já em 2001, todas UFs registraram casos autóctones. De acordo com dados disponibilizados pelo DATASUS, o estado de Minas Gerais, em 2010, notificou 2.019 casos de LT, com números abaixo apenas aos dos estados da Bahia, Mato Grosso, Maranhão e Pará. Esse valor corresponde a 8,6% dos casos do país e corresponde a uma taxa de incidência de 10,5 casos por 100.000 habitantes no estado. O município de Almenara, situado no Vale do Jequitinhonha apresentou taxa de incidência de 95,4 casos por 100.000 habitantes em 2010, valor 9 vezes superior à taxa de incidência no Estado no mesmo período. Este estudo realizou análise epidemiológica da LT em Almenara, Minas Gerais, Brasil, entre 2001 e primeiro semestre de 2012, através da análise de notificações presentes no banco de dados do SINAN e georreferenciamento dos casos na região com maior transmissão. A análise permitiu traçar o perfil da doença nesta localidade para auxílio nas ações de vigilância deste agravo. Trata-se de um estudo descritivo que utilizou como base de dados casos confirmados de LT notificados no SINAN no período entre 2010 até o primeiro semestre de 2012. As informações populacionais foram extraídas do censo do IBGE (2010). Durante os anos de 2010, 2011 e primeiro semestre de 2012 foram notificados 99 casos de leishmaniose tegumentar, sendo que 8 casos ocorreram em 2010, 20 em 2011 e 22 no primeiro semestre de 2012. Os três anos apresentaram uma média de 40 casos anuais, e uma incidência 113,04 casos por 100.000 habitantes. A distribuição dos casos notificados de acordo com a zona de moradia indicou que no ano de 2012 houve uma alteração do perfil epidemiológico da doença, que passou a ser predominante na zona urbana. O aumento sequencial de casos entre os anos de 2010 a 2012 se torna preocupante quando associado à mudança do perfil epidemiológico da doença. O aumento do número de casos no primeiro semestre de 2012 em relação ao de 2011 possivelmente está associado a essa mudança no perfil da doença. Essa mudança de perfil é coerente a mudança ocorrida no Brasil nos últimos anos. A necessidade de intervenção urgente por intermédio de uma integração de todos os níveis de atenção à saúde e de uma ação intersetorial é fundamental. A superação da fragmentação das políticas públicas é imprescindível para incidir sobre os determinantes sociais do processo saúde-doença e a integração é fundamental para que se alcance o cuidado necessário em todos os níveis desejados para o controle da doença. |