Resumo |
No decorrer dos tempos, movimentos sociais e políticos contribuíram para que os sujeitos surdos conquistassem direitos significativos, tais como o reconhecimento da LIBRAS como língua oficial dos surdos pela lei n⁰ 10.436/2002. Entretanto, estas lutas não ocorreram de forma intensa de modo a incluí-los de maneira mais completa na sociedade. Todavia, no que se refere ao surdo no ensino superior brasileiro, apesar da existência da portaria nº 1.679/99 que determinou a estruturação das instituições a fim de favorecer o ingresso desses sujeitos nesse nível educacional, nota-se que o número de alunos surdos matriculados é baixo. Nessa perspectiva, a presente pesquisa objetiva conhecer, descrever e analisar as trajetórias escolares de estudantes surdos, provenientes de camadas populares, matriculados no ensino superior. A pesquisa tem como lócus as instituições de ensino superior do munícipio de Viçosa- MG. Os instrumentos metodológicos da pesquisa consistem em levantamentos de dados sobre os números de estudantes surdos matriculados no ensino superior no município citado e entrevistas semiestruturadas com os sujeitos selecionados. A hipótese central parte do pressuposto de que o acesso de estudantes de camadas populares no ensino superior são casos atípicos, pelo fato de irem além das expectativas esperadas para os sujeitos pertencentes a este grupo social. Para o sujeito desse grupo que possui a surdez como característica física, essa tende a ser um empecilho maior no sucesso escolar, uma vez que o processo de escolarização desse indivíduo é marcado por poucos profissionais habilitados em LIBRAS, entre outros fatores, acarretando assim um provável fracasso escolar. Acredita-se que estes estudantes e seus familiares empreenderam uma forte mobilização que possibilitaram terem trajetórias escolares longas. Apesar de políticas afirmativas contribuírem para a inclusão do aluno surdo no ensino superior brasileiro, o acesso e a permanência desses sujeitos é uma dificuldade que persiste. Devido a isso busca-se compreender como estes estudantes constroem as interações sociais no campus universitário e em relação às políticas públicas tanto de acesso quanto de permanência, conhecer como estas políticas vêm contemplando estes sujeitos. Dados iniciais indicam que os estudantes surdos durante seu processo de escolarização estudaram tanto em escolas de educação especial como em estabelecimentos regulares. Alegam que o acesso às escolas era penoso, pelo fato de não terem condução escolar que os levassem do local de suas moradias até as escolas e que a aprendizagem da língua de sinais ocorreu somente na vida adulta. No cotidiano da vida universitária, os mesmos relatam que o relacionamento com os professores e colegas de turma é agradável e que por parte da universidade recebem auxílio moradia, alimentação e apoio de um interprete de LIBRAS nas aulas. |