Resumo |
Sabe-se que a prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças tem se tornado um dos mais significativos problemas de saúde pública da atualidade. Vários estudos têm observado associações entre a ingestão de cálcio com a obesidade, adiposidade corporal, dislipidemias, resistência à insulina e hipertensão arterial, no entanto, não é claro se o cálcio por si só apresenta esse impacto ou se o impacto ocorre de outros componentes presentes nos alimentos. Este estudo objetivou avaliar a ingestão de cálcio e sua associação com fatores de risco cardiovasculares na infância. Foi realizado um estudo transversal com 347 crianças de 8 e 9 anos de idade da rede pública e privada do município de Viçosa (MG). Realizou-se a aferição do peso e estatura para o cálculo do índice de massa corporal (IMC). Solicitou-se o preenchimento de três registros alimentares em dias não consecutivos incluindo um dia no fim de semana e foram realizados exames bioquímicas. O estado nutricional foi classificado segundo os pontos de corte de IMC/idade propostos pela Organização Mundial de Saúde (2007). A ingestão dietética foi avaliada de acordo com as Dietary Reference Intakes (DRI) propostas pelo Institute of Medicine. A estatística descritiva e o teste qui-quadrado de Pearson foram utilizados para análise dos dados. Das crianças estudadas, 59,1% eram do sexo feminino, sendo a maioria (77,8%) de escolas públicas e residentes na zona urbana (91,1%). Quanto ao estado nutricional, 63,7% das crianças encontravam-se eutróficas, 20,2% com sobrepeso e 11,8% com obesidade. Em relação ao perfil lipídico, observou-se que mais da metade das crianças apresentavam níveis séricos de colesterol total elevados (55,9%), e 6,4% apresentavam hipertrigliceridemia. A maioria das crianças (96,2%) tinha uma ingestão diária de cálcio abaixo da recomendação. Em relação ao consumo de leite e derivados, observou-se que menos de 5% das crianças consumiam a recomendação de no mínimo 3 porções por dia desse grupo de alimentos. Foi observada associação significante entre os níveis de colesterol total (p=0,02) e LDL-colesterol (p=0,02) com consumo diário adequado de cálcio. Quanto ao consumo de leite e derivados, notou-se associação estatística negativa somente para os valores da pressão arterial diastólica (p=0,01). Conclui-se que as crianças apresentaram um consumo de cálcio e leite e derivados abaixo do recomendado; houve um aumento do colesterol total e LDL-colesterol nas crianças que apresentaram consumo adequado de cálcio e uma redução da pressão arterial diastólica nas crianças que ingeriam mais de três porções de leite e derivados ao dia. O estado nutricional da maioria das crianças encontrava-se adequado, no entanto é necessário um cuidado especial nessa fase devido ao fenômeno de transição nutricional, marcada pelo aumento do excesso de peso e deficiente consumo de micronutrientes importantes para o crescimento tais como cálcio. |