Resumo |
O presente trabalho é parte do projeto de pesquisa interface extensão referente à formação sobre gênero e violência de gênero de estudantes de escolas públicas do município de Viçosa/MG, desenvolvido pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Gênero da UFV e financiado pelo Edital Pesquisa em Educação Básica-Acordo CAPES/FAPEMIG. Destacamos para essa apresentação o recorte de análise sobre o processo de formação das/os bolsistas integrantes deste projeto no que se refere às questões de gênero. Esse destaque se justifica dadas as dificuldades em realizar discussões sobre gênero e principalmente sobre sexualidade com os/as adolescentes participantes do projeto. A justificativa das/os bolsistas sobre essas dificuldades envolvia um discurso sobre o espaço escolar ser um espaço de práticas sexistas, discriminatórias baseadas em desigualdades de gênero, sendo que estas práticas são produzidas e reproduzidas, não havendo espaços para discussão/problematização nos conteúdos curriculares e extracurriculares; ou quando há espaços, as questões de gênero surgem associadas à discussão da sexualidade, voltada para o biológico. Buscamos através da realização de um grupo focal com as/os bolsistas, utilizando a técnica do Rio da Vida (Diagnóstico Rápido Participativo), apreender a tensão de campos e habitus que se instaurou no processo de elaboração das oficinas no que tange às questões de gênero no trabalho pedagógico. Durante a realização da atividade, as bolsistas trouxeram como as discussões de gênero perpassaram suas trajetórias escolares, pessoais e acadêmicas enquanto discussão da sexualidade não entendida como campo do prazer e campo político, mas como campo biológico. As bolsistas relataram ainda que, mesmo com todo suporte teórico e a formação diferenciada que o NIEG possibilita, ainda há a dificuldade em não reproduzir a sexualidade como discurso biológico e o modelo heteronormativo. Em referência a isso, as bolsistas trouxeram que esse é um processo permanente, pessoal e coletivo e que não pode ser entendido como um problema individual, mas social tendo suas raízes na lógica patriarcal que historicamente normatiza os discursos e práticas dos sujeitos. Assim, o silenciamento articulado com a biologização e a heteronormatividade puderam ser analisados através da crítica feminista ao fazer pedagógico empenhado pelas/os bolsistas no projeto das escolas, o que possibilitou uma formação acadêmica diferenciada. |