Resumo |
A Pesquisa de Orçamento Familiar (IBGE, 2011/2012)que mede os índices de consumo do Brasil, indicou que o consumo no país está em ascendência,entre os três bens mais consumidos encontra-se o alimento. Este dado estimulou o anseio em se pesquisar mais profundamente sobre comida e práticas alimentares, de forma a inseri-las nas discussões referentes às Ciências Sociais, em específico as relacionadas à Cultura e Ciência. A presente pesquisa integrou os financiamentos do Projeto de Iniciação Científica realizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com início em agosto de 2012 e término em julho de 2013. O foco analítico aqui se encontra nas práticas alimentares e nos seus processos de relação com cultura e ciência, buscando ainda compreender quais são os sentidos e os significados das mesmas. De forma a pensar sobre a naturalização que se faz em torno do ato de comer, que muitas vezes é pensado apenas pela lógica da necessidade fisiológica, mas que não necessariamente é praticado única e exclusivamente por essa mesma lógica. O papel relevante das teorias produzidas pelas Ciências Sociais se dá justamente em problematizar a lógica existente por detrás do consumo dos alimentos, o que corroborado pela já citada Pesquisa de Orçamento Familiar, indica a existência de variações entre os alimentos consumidos nos diferentes Estados brasileiros. Essas diferenças fazem pensar a respeito do que Roberto da Matta diz em seu livro “O que faz o Brasil, Brasil?”, a respeito de que nem tudo o que é considerado alimento é considerado comida. Com base nessa reflexão inicial o objetivo dessa pesquisa foi não deter-se apenas ao consumo dos alimentos, mas também em questões como: por que se consome determinados alimentos? Qual o significado do comer ou do não comer determinados alimentos? Como as diferenças culturais formulam diferentes significados ao consumo? Na tentativa de responder essas e outras questões foi necessária a realização de uma densa pesquisa teórica e empírica a respeito deste tema. O local escolhido para a realização do trabalho de campo foi o município de Viçosa, em Minas Gerais, do qual se delimitou três diferentes bairros para a realização das entrevistas e observações, sendo eles o Centro, Ramos e Nova Viçosa. A ida a campo se deu no intuito de compreender como cultura e ciência atuam nas práticas alimentares de famílias do município. Por fim, ao estudar os hábitos alimentares nesses diferentes bairros foi possível perceber que a alimentação pode revelar muito mais do que padrões de consumo.Evidenciam a partir destes padrões a existência de fronteiras simbólicas entre classes sociais, gênero e faixa etária. Essas fronteiras são ainda mais enaltecidas quando se analisa o papel e a inserção da ciência nas práticas alimentares dos entrevistados, operando como mais um fator de distinção e poder entre os grupos citados. |