Resumo |
Este trabalho é fruto do desenvolvimento do Projeto de extensão “Corpo, gênero e sexualidade: formação em educação sexual para professores/as”. No projeto são realizadas oficinas sobre as questões de gênero com o uso de metodologias participativas. Nesse sentido, o objetivo do trabalho é relatar a utilização de filmes como um recurso pedagógico. Os filmes “O renascimento do parto”, “Dzi Croquettes” e “Shortbus” foram analisados para entendermos como podem facilitar as discussões sobre gênero. O primeiro filme refere-se à visibilidade da violência obstétrica, contando com diversos relatos de mulheres que foram violentadas durante seus partos. Esse filme proporcionou a discussão sobre o atendimento desumanizado às mulheres grávidas, o que se acentua durante o parto. O filme nos faz perceber que o discurso médico, enquanto lugar da produção de discursos, tem sido usado para controlar os corpos estabelecendo normas e procedimentos sobre eles. Esses discursos são legitimados, pois a ciência médica é vista como um dos lugares da verdade. Já o segundo filme, “ Dzi Croquettes” é um documentário sobre um grupo de artistas que criam uma identidade específica. Não são homens nem mulheres. Suas roupas, maquiagens e performances de teatro e dança “brincam” com o padrão binário do feminino e do masculino. Nessa fronteira, eles/as fizeram críticas políticas ao sistema social que viveram, principalmente ao exercício de suas sexualidades. Ser um/a Dzi croquette significava um jeito de viver mais do que se vestir ou se apresentar de determinada maneira. Com este filme, foi possível discutirmos a construção das identidades sexuais e o estranhamento que o grupo causa nas pessoas ao fugir da lógica heteronormativa. A necessidade de rotular o que é considerado feminino do que é masculino está vinculada a histórica construção de nosso sistema de valores e crenças, pautado em racionalidades patriarcais. O último filme foi “Shortbus” retratando a história de uma terapeuta sexual de casais que não sente prazer com seu marido. Em uma das suas consultas ela conhece um casal homossexual que lhe apresenta um clube chamado Shortbus. Nesse clube, as pessoas vivem relações afetivas, sexuais e políticas não monogâmicas. Ao vivenciar esse espaço, a terapeuta começa a questionar (e a experimentar) outras formas de relação com o seu marido e com as demais pessoas. O filme questiona o lugar do discurso médico (da terapeuta sexual) visto como o lugar da produção de verdade sobre o sexo, pois ao trazer o papel de uma terapeuta sexual que não consegue ter prazer é evidenciada a medicalização do sexo. Em contraposição, na boate e nas experiências dos sujeitos conseguimos visualizar o exercício da sexualidade e as desmecanizações dos corpos. Com a utilização desses filmes conseguimos trazer as discussões do gênero para o cotidiano das pessoas, onde se percebem e notam as relações de poder construídas nos diferentes discursos. |