Resumo |
O Projeto Agentes Comunitárias para o Enfrentamento da Violência contra a Mulher trabalha em articulação com a Casa das Mulheres de Viçosa-MG desenvolvendo atividades de extensão/formação em interface com a pesquisa no âmbito do PROEXT. O objetivo do projeto parte da identificação de pessoas, principalmente lideranças comunitárias, que se identificam com a temática e que se interesse em participar de atividades de formação para a atuação enquanto mobilizador/educador popular para o enfrentamento da violência contra a mulher. O trabalho se desenvolve nos bairros e distritos de Viçosa: Cachoeira de Santa Cruz, Carlos Dias, Conjunto Habitacionais Coelhas e Floresta. Uma vez identificadas às lideranças, são agendados encontros para discussão de temáticas que abrangem questões de gênero, direitos das mulheres (Lei Maria da Penha), ciclo da violência, empoderamento das mulheres em situação de violência, políticas públicas para mulheres, rede de enfrentamento da violência e Casa das Mulheres. No decorrer dos encontros percebemos a relevância de falarmos sobre questões como raça, exclusão social, econômica e territorial para avançar nas discussões propostas, uma vez que o público trabalhado é composto, em sua maioria, por mulheres negras e atendidas por programas de transferência direta de renda do Governo Federal (como o bolsa família). A fragilidade e o desamparo manifestados por várias (se não todas) mulheres em situação de violência doméstica são maximizados quando essas mulheres trazem em suas trajetórias as marcas do racismo e da exclusão social, questões que se configuram como potencializadoras da violência e silenciadores das vítimas. Nesse sentido, os avanços que os movimentos feministas trouxeram para as conquistas dos direitos pelas mulheres e sua inserção no mundo público, não contemplam igualmente as mulheres, quiçá mulheres negras e mulheres negras e pobres. A perspectiva de inclusão para essas mulheres, negras e pobres, acontece numa outra lógica social, por meio do recrutamento dessas mulheres nos espaços privados, como empregadas domésticas, tendo seus direitos alienados e ficando expostas a outras formas de violência. Pensando numa concepção de luta histórica das mulheres, podemos traçar os avanços das mulheres brancas em paradoxo com a trajetória das mulheres negras. Para que uma categoria avançasse, a outra serviu de suporte. Nesse sentido, a incorporação de outros demarcadores sociais, como raça, exclusão social/econômica/territorial, possibilitam a ampliação das reflexões e problematização das questões que circundam a violência contra as mulheres numa perspectiva mais multicausal. Assim, o trabalho de formação de Agentes de Enfrentamento contribui para um olhar de estranhamento sobre questões antes naturalizadas, como os preconceitos raciais, as opções de trabalho tidas como “destino”, a violência que é “herdada” de mãe para filha, o rompimento com o ciclo da violência e o rompimento do silenciamento. |