Resumo |
A família Characidae é a maior e mais complexa da ordem Characiformes, sendo Astyanax seu maior gênero. Este gênero é composto por espécies exclusivamente de água doce, que apresentam poucas diferenças morfológicas, ecológicas e comportamentais entre si, gerando dificuldades em relação à classificação taxonômica do grupo. Peixes com duas manchas, uma umeral de forma horizontal ovalada e outra na base da cauda que se estende à extremidade dos raios caudais, ocorrem em muitas bacias da região neotropical e são considerados como um complexo de espécies denominado Astyanax aff. bimaculatus. Vinte e duas espécies já foram descritas dentro deste complexo nas bacias que compõe a América do Sul, como é o caso da espécie Astyanax altiparanae descrita por Garutti & Britski (2000) na bacia do rio Grande e considerada endêmica da bacia do alto Paraná. O objetivo deste trabalho foi a descrição, com base em dados citogenéticos e moleculares, de uma população de Astyanax altiparanae presente no ribeirão Espírito Santo, bacia do rio Paraíba do Sul, Minas Gerais, Brasil. Os indivíduos coletados foram submetidos à técnica de obtenção de cromossomos mitóticos metafásicos. A detecção das regiões organizadoras de nucléolo (Ag-NORs) foi feita através da impregnação com nitrato de prata. As árvores filogenéticas do gene COI foram obtidas por Máxima Parcimônia e Inferência Bayesiana. O cariótipo encontrado foi 2n= 6m + 20sm + 18st + 6t, com marcações de Ag-NORs variando de dois a oito cromossomos. As árvores filogenéticas obtidas com o gene COI indicaram a presença de dois haplogrupos: o haplogrupo I formado por indivíduos de Astyanax altiparanae proveniente do alto Paraná agrupando com a população do ribeirão Espírito Santo e o haplogrupo II formado por populações da bacia do rio Paraíba do Sul. A presença de macacões múltiplas de Ag-NORs na população do ribeirão Espírito Santo, diferentemente das macacões simples observadas nas outras populações do Paraíba do Sul, juntamente com a presença dos haplótipos compartilhados com a bacia do alto Paraná nas árvores filogenéticas sugerem que Astyanax altiparanae apresenta uma distribuição costeira mais ampla do que se acreditava, além da bacia costeira do rio Itatinga, na região de Bertioga, estado de São Paulo. Este padrão consistente dos dados citogenéticos e moleculares permite recuperar eventos de vicariância relacionados a eventos de captura de cabeceiras na região da Serra da Mantiqueira envolvendo a bacia do alto Paraná e a bacia costeira do rio Paraíba do Sul. |