Resumo |
A pesquisa foi realizada entre maio de 2013 e março de 2014, com jovens trabalhadores rurais da Zona da Mata Mineira, de ambos os sexos e na faixa etária entre 18 e 29 anos. O objetivo geral foi compreender a elaboração dos projetos de vida desses trabalhadores a partir de suas motivações e avaliações sobre o campo de possibilidades futuras. Especificamente buscou-se identificar as características e demandas de trabalho e estudo dos jovens rurais, bem como analisar os motivos de permanência ou saída do campo, avaliando os recursos regionais disponíveis para a concretização dos projetos de vida. O percurso metodológico incluiu pesquisa bibliográfica e documental, bem como entrevistas junto a representantes de instituições ligadas à juventude rural. Foram aplicados questionários semiestruturados com 74 jovens trabalhadores moradores em municípios da microrregião de Viçosa e com 98 jovens que participaram da Semana da Juventude Rural promovida pela Universidade Federal de Viçosa em 2013. Desse universo foram selecionados 10 jovens para a realização de entrevista em profundidade. Os resultados apontam para um projeto de vida que afirma o desejo de permanecer no campo e a convivência familiar é o argumento mais destacado para valorizar positivamente o meio rural. Migrar para a cidade se apresenta como opção para a continuidade dos estudos de nível técnico e superior, mas apenas como fase de deslocamento temporário e não como migração definitiva. Os jovens entrevistados não conseguem visualizar oportunidades de formação e capacitação profissional nas localidades onde residem. Para a maioria, que manifestou o projeto de continuar nas atividades agropecuárias nas propriedades familiares, a instituição mais destacada para o aperfeiçoamento e atualização foi a EMATER. A ausência ou invisibilidade de políticas públicas e o fraco desempenho institucional foram avaliados em três momentos da pesquisa, e conclui-se que há um descompasso do aparato estatal com a realidade dos jovens rurais. Se é certo que a formação de nível técnico ou superior, como os próprios jovens acreditam, poderia ampliar as oportunidades de um futuro melhor, nada garante que o desejo de retornar ao local de origem para exercer a profissão, mesmo a de agricultor, seja acompanhado de políticas públicas locais para a absorção dessa mão de obra qualificada. O projeto de maior escolaridade pode se ver frustrado na medida em que os planos de desenvolvimento rural não se comprometam com esse nível de inclusão laboral e social que os jovens esperam. Os dados nos levam a tomar com precaução os planos de permanência dos jovens no meio rural, na medida em que as oportunidades de continuar os estudos, de ter opções variadas de formação profissional e atividades de cultura e lazer não encontram respaldo institucional governamental e não governamental. A permanência, nesse sentido, se daria em um patamar de qualidade de vida e desenvolvimento pessoal marcados pelas poucas oportunidades disponíveis. |