Resumo |
O Projeto “Formação e Capacitação sobre Gênero e Direitos Humanos no Enfrentamento da Violência contra a Mulher”, vinculado ao Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Gênero (NIEG), promove atividades pedagógicas com estudantes em escolas da rede pública do município de Viçosa. Tal projeto visa à formação de estudantes através de oficinas temáticas, privilegiando o uso de metodologias participativas, tendo como eixo central a discussão de gênero e violência de gênero. O projeto também prevê a produção de um vídeo pelos/as estudantes, como instrumento pedagógico favorecendo a reflexão e apropriação das temáticas discutidas. O presente trabalho de pesquisa tem por objetivo apresentar uma reflexão sobre o trabalho pedagógico realizado em uma das escolas públicas de Viçosa e sobre a inserção da equipe do projeto nesse espaço, ponderando as dificuldades encontradas. Para realizar tal reflexão, foram analisadas as relatorias construídas durante as oficinas, buscando apreender em que medida os instrumentos metodológicos utilizados potencializaram a discussão de temáticas como gênero, homofobia, sexualidade, patriarcado, raça e etnia e violência contra as mulheres. Além disso, foram analisadas relatorias referentes à observação do espaço escolar, a fim de investigar os posicionamentos diante das desigualdades sociais e de gênero vivenciadas nesse espaço. Percebeu-se que as oficinas funcionaram como espaço de diálogo e empoderamento dos/as estudantes envolvidos/as, oportunizando a reflexão e a discussão sobre temas normalmente silenciados. Citamos, por exemplo, um estudante assumidamente homossexual que sofria intenso preconceito de seus/as colegas e com o avanço das discussões, passou a ser respeitado e ganhou voz, afirmando sua identidade. Na oficina sobre patriarcado, discutimos como esse sistema é reproduzido ao longo da história, ordenando e naturalizando as relações de poder. Utilizamos imagens cotidianas e cenas de novelas que evidenciaram o domínio do homem sobre o corpo da mulher e sobre suas condutas e moral. Nesse espaço, muitas estudantes relataram vivências envolvendo o controle de seus gostos e opções (por exemplo, uso de roupas) e comportamentos por parte de pais e namorados. Por outro lado, alguns conflitos foram experimentados, como o fato da administração escolar retirar os cartazes de divulgação do projeto, que haviam sido permitidos de serem afixados e de algumas intervenções durante as oficinas (por parte do corpo docente da escola presente) demonstraram rigidez e normatização. Tais acontecimentos ocorreram ainda que o projeto tivesse sido apresentado à administração da escola e autorizada sua realização. No entanto, entende-se que propostas como estas devem continuar sendo desenvolvidas, buscando a problematização do que é dado como naturalizado na sociedade, em busca da formação de sujeitos mais críticos, pensantes sobre as desigualdades socialmente estabelecidas, e reflexivos sobre suas práticas no mundo e nas relações sociais. |