Resumo |
A leishmaniose visceral (LV) é uma doença humana fatal causada por um protozoário intracelular do gênero Leishmania. Esse parasito invade macrófagos localizados preferencialmente no fígado, baço e medula óssea, causando lesões que podem ser fatais se não tratadas. Sua ocorrência em países subdesenvolvidos, principalmente onde a fome e o vírus HIV estão presentes, torna evidente a necessidade de maior esforço para a procura de mecanismos de controle da doença, o que está associado ao maior conhecimento da biologia do agente causador, de sua composição molecular e da interação do mesmo com as células do hospedeiro. Por esse motivo, muito esforço é despendido no sentido de se encontrar uma estratégia que permita o controle da LV, seja no contexto de profilaxia ou de tratamento da doença. No contexto da procura de moléculas que possam estar envolvidas em processos infecciosos, destacam-se as lectinas, um grupo de proteínas ubíquas, cuja principal característica é se ligar a carboidratos solúveis ou presentes em glicolipídeos ou glicoproteínas. A participação de lectinas, principalmente no processo de adesão celular de vários microrganismos infecciosos, nos alerta para a possibilidade de sua participação também na infecção por Leishmania infantum chagasi, causadora da LV no Brasil. Essa propriedade despertou nosso interesse sobre a possível participação de lectinas parasitárias no processo de adesão de microrganismos patogênicos a células de mamíferos. Neste trabalho, como parte de um projeto mais amplo que visa a verificação da participação de lectinas ligantes de heparina de Leishmania infantum chagasi na infecciosidade do parasito, avaliamos, por intermédio da utilização de macrófagos tratados ou não com heparinase, uma enzima que hidrolisa heparina, a participação dos ligantes de heparina presentes nos parasitos nos processos de adesão e penetração, que são importantes etapas para o sucesso infeccioso. Foi feita a infecção de macrófagos "in vitro", com avaliação microscópica dos processos de adesão e de penetração parasitária. Os resultados obtidos mostraram uma tendência à diminuição da infecção pela Leishmania no grupo de macrófagos tratados com heparinase. A confirmação deste resultado em experimentos posteriores pode nos dar embasamento para a utilização do bloqueio da adesão e da penetração parasitárias pela intervenção nas lectinas ligantes de heparina do parasito, possibilitando o controle da infecção. |