Resumo |
No Brasil, doenças de etiologia bacteriana têm acometido a produção de mudas de Eucalyptus spp. em diversas regiões do país. Em especial, a mancha-bacteriana, que no período de 2003 a 2008 proporcionou perdas significativas de mudas e minicepas clonais em vários viveiros do país, estimadas em aproximadamente 14,5 milhões de reais de prejuízos. A determinação da diversidade fenotípica e genotípica do complexo etiológico da mancha-bacteriana é fundamental para o direcionamento do melhor método para detecção e identificação do agente causal da doença, bem como para designar a melhor estratégia de manejo. Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar o complexo etiológico causador da mancha-bacteriana do eucalipto. A partir de amostras de mudas de eucalipto com sintomas da doença de viveiros e do campo de diversas regiões do Brasil foram obtidas, por isolamento indireto, 67 culturas bacterianas. Os isolados obtidos foram avaliados quanto à patogenicidade em mudas de eucalipto, clone 37254 (E. urophylla × E. globulus). Para isso, três mudas clonais foram atomizadas com uma suspensão de inóculo OD540=0.2 (1 × 108 UFC mL-1) com cada um dos isolados obtidos e mantidas em condições de casa de vegetação, até o surgimento dos sintomas. Plantas não inoculadas compunham a testemunha. Dos 67 isolados obtidos, 41 causaram sintomas em mudas do clone 37254. Os isolados patogênicos tiveram a região parcial do gene 16S rDNA sequenciada com o intuito de fazer uma identificação inicial. As sequências parciais do gene 16S rDNA foram comparadas com outras sequências disponíveis no GenBank usando o programa Blastn o qual indicou valores de identidade de 100% com bactérias pertencentes ao gênero Xanthomonas. Análise filogenética multi-locus (MLSA) dos genes dnak, fyuA, gyrB e rpoD revelou que os isolados obtidos neste trabalho são filogeneticamente relacionado com X. axonopodis e X. perforans. Entretanto, estudos recentes têm revelado que X. perforans pode ser considerado uma subespécie de X. axonopodis. Assim, os resultados obtidos neste estudo corroboram trabalhos anteriores que relatam X. axonopodis como o principal agente etiológico da mancha-bacteriana do eucalipto no Brasil. Testes bioquímicos, biológicos e inoculações cruzadas em outros hospedeiros estão sendo conduzidas para confirmar se os isolados obtidos no presente trabalho formam um novo patovar de X. axonopodis. Resultados das análises filogenéticas sugerem ainda a existência de variabilidade entre os isolados causadores de mancha-bacteriana em eucalipto. O conhecimento da correta etiologia da doença e da variabilidade genética do patógeno são fundamentais para o controle da doença e para nortear os programas de melhoramento genético de eucalipto. |