Resumo |
Fosfina é atualmente o fumigante mais empregado no controle de pragas em unidades armazenadoras, apesar dos problemas de resistência a este composto entre os insetos de produtos armazenados como caruncho do milho, Sitophilus zeamais (Coleoptera: Curculionidae), principal praga de cereais no Brasil. O mecanismo de toxicidade e de resistência a fosfina ainda são poucos esclarecidos, no entanto a mitocôndria é amplamente reconhecida como seu principal sítio de ação. Assim, objetivou-se testar em 16 populações de S. zeamais multiplicadas e mantidas em câmaras climáticas tipo B.O.D (27 ± 2 ºC, UR= 70 ± 10% e fotoperíodo de 12h), 1) a possível correlação negativa entre sobrevivência a fosfina e taxa respiratória, 2) investigar a ação da fosfina na degradação das mitocôndrias e 3) correlacionar a sobrevivência a fosfina com as diferentes linhagens mitocondriais. Para avaliação da sobrevivência, insetos com idade de 1 a 15 dias foram acondicionados em dessecadores com quatro repetições de 25 insetos de cada população, expostos a fosfina (0,04 mg/L) por 20h e alocados em milho isento de inseticida por mais 14 dias. O ensaio de respirometria foi realizado utilizando um respirômetro do tipo TR3C equipado com um analisador de CO2 e metodologia adaptada, a partir de quatro grupos de 10 insetos adultos. A microscopia foi realizada em microscópio confocal de escaneamento a laser Zeiss LSM 510 META com objetiva de 63x, a partir das fibras musculares da região do tórax de insetos não sexados, com idade de 1 a 3 dias, de três populações com diferentes níveis de resistência a fosfina, previamente expostos ao fumigante (0.04 mg/L) por períodos de 20 e 72 horas. As linhagens mitocondriais foram estabelecidas através do sequenciamento de fragmentos dos genes citocromo c oxidase subunidade I (COI) e citocromo c oxidase subunidade II (COII). Os dados de sobrevivência a fosfina foram corrigidos, submetidos análise de variância (ANOVA), ao teste de agrupamento de Scott-Knott (p < 0,05) e à análise de regressão linear e correlação de Pearson com a taxa respiratória e massa corpórea (p < 0,05). Os dados de sequenciamento foram alinhados e editados para posterior estimativa do número de haplótipos (H), diversidade de haplótipos (Hd) e confecção da rede de haplótipos. Os resultados para sobrevivência a fosfina apresentaram diferença significativa entre as populações estudadas (F(15; 48) = 7,73; p < 0,001), que foi negativamente correlacionada com a taxa respiratória e a massa corpórea. A exposição dos insetos a fosfina não provocou lise mitocondrial completa, no entanto a população mais resistente à fosfina exibiu maior densidade mitocondrial. Não foi detectada associação entre as linhagens mitocondriais e a susceptibilidade fosfina, o que indica evolução independente entre estes dois fatores, e impossibilidade da utilização dos genes mitocondriais COI e COII como marcadores moleculares de sobrevivência ao fumigante. |