Resumo |
No Brasil, milhões de famílias se encontram excluídas do direito a uma moradia digna. Além do processo de industrialização, as causas do déficit habitacional brasileiro estão diretamente relacionadas à especulação imobiliária da terra urbana, à baixa renda familiar de grande parte da população e a políticas habitacionais ineficientes. O Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), foi lançado em 2009 com o objetivo principal de incentivar a produção e aquisição de novas unidades habitacionais para famílias com renda de zero a dez salários mínimos, aquecendo a economia com a geração de emprego e renda e tendo como meta inicial a produção de 1 milhão de moradias. No âmbito do PMCMV as famílias beneficiárias tem sido alocadas, geralmente, em áreas distantes do centro da cidade, desprovidas de infraestrutura, o que restringe o acesso aos serviços urbanos e aos espaços públicos, semipúblicos e coletivos. As várias situações geradas pela falta de acesso a esses serviços e equipamentos urbanos, trabalho, além da incidência da violência, levam a que os moradores tenham uma sociabilidade, muitas vezes, marcada por conflitos e tensões. Objetiva-se entender as experiências de sociabilidade familiar, nos conjuntos habitacionais atualmente implantados em Viçosa: César Santana Filho, Benjamin José Cardoso e Conjunto Habitacional Floresta, a partir do acesso aos espaços coletivos e públicos ou semipúblicos. O projeto em questão visa analisar ainda, como a disponibilidade dos espaços e serviços urbanos favorecem ou não a consolidação dos laços afetivos e sociais no âmbito familiar. Esta pesquisa é de natureza qualitativa e descritiva. As observações não participantes, em inserções nos conjuntos habitacionais citados têm evidenciado restrições à sociabilidade dos moradores, pela localização dos conjuntos, distantes e de difícil de acesso à cidade para compras, trabalho, estudo e lazer e pela falta de postos de saúde e precariedade de atendimento por transporte coletivo. Foram observadas também a presença de muros e grades em janelas e portas da maioria das casas, falta de policiamento, de iluminação e conservação nas vias de acesso aos conjuntos além de sucateamento e deterioração das áreas de lazer, falta de telefones públicos e de rede de telefonia fixa, bem como fraco sinal de telefonia móvel. Estas evidências, dentre outras que possivelmente serão identificadas através da fala dos moradores, faz com que as pessoas permaneçam a maior parte do tempo no interior da residência, restringindo sua sociabilidade mais ampla. |