Resumo |
João de Barros é considerado um dos maiores representantes da cultura letrada portuguesa renascentista e principal ideólogo do Império Português. Sua obra é extensa e abarca um conjunto de campos temáticos, tais como a história, a filosofia, a pedagogia e a gramática. Nossa pesquisa tem como foco um de seus escritos, o Panegírico de D. João III, de 1533, que se apresenta como um significativo exemplo de literatura epidítica quinhentista. Com o projeto “A linguagem política do Panegírico de D. João III: elementos para um estudo do humanista português João de Barros (1496-1570)”, financiado pela FAPEMIG, pretendemos focalizar a literatura de cunho epidítico produzida no contexto de ascensão dos Estados nacionais europeus, com atenção especial ao Panegírico de D. João III, que constitui um rico exemplo do caso português. O gênero epidítico volta-se para a produção de lições edificantes, úteis e honestas e utiliza-se do recurso da amplificação, seja para elevar a nobreza de algo ou alguém ou para destacar os vícios de algo ou alguém. O panegírico, por sua vez, é um subgênero da retórica epidítica e volta-se para a exaltação das ações ou virtudes de um determinado indivíduo. No Panegírico de D. João III, João de Barros se utiliza do recurso da amplificação para elevar as qualidades do monarca português. Virtudes como sabedoria, prudência, liberalidade, clemência e humanidade são constantemente relacionadas à figura de D. João III, convergindo, juntas, para a construção de sua imagem como príncipe perfeito. Por meio do encômio, Barros busca afirmar as excelências do governo de D. João III, o seu compromisso com a manutenção da ordem interna, o amor aos seus vassalos, a garantia da paz, a conservação do Estado, de forma a prestigiar e reduplicar o poder, criando o mito do rei e sustentando-lhe a propaganda política de maneira a ganhar crédito. Por outro lado, Barros oferece a D. João III um reflexo do que ele deve ser e fazer para bem conservar seu Estado e recorre à experiência histórica como forma de melhor instruí-lo a respeito da arte do bom governo. Nesse particular, defendemos que o Panegírico de D. João III, para além de exaltar as virtudes e os feitos do rei, caracteriza-se como um texto de educação de príncipe, tendo em vista sua estrutura marcadamente instrutiva e pedagógica. |