Resumo |
A necessidade de fundamentação do processo do luto no discurso de mães e o reduzido número de pesquisas sobre o assunto justificam a busca por esta análise, em profundidade e com detalhamento. Estudando alguns enunciados da morte, na ótica do luto de filhos, busca-se aprofundar os conhecimentos nessa área, entendendo que este é um processo complexo e que nele há diversas influências. Este estudo busca identificar concepções e comportamentos das mães enlutadas perante a perspectiva da análise de discurso, com base em narrativas de vida, dentro do enfoque da origem francesa, cujas filosofias de Bakhtin, Foucault, Charaudeau, Ducrot, Perelman, Fairclough e Van Dijk se fazem presente. Procurou-se salientar pontos em comum que se apresentavam nas enunciações, contextualizados na forma de entrevistas publicadas ou veiculadas em Programas Brasileiros de Televisão, enfatizando o discurso subjetivo que se apresenta diante da morte de filhos e da aprendizagem com essa realidade. Para o acesso a este acervo buscou-se, nas plataformas Google acadêmico e SciELO (Scientific Eletronic Library Online), a expressão “morte ou luto”; “luto de pais”; “morte de filhos”; “mães enlutadas” e “entrevistas de mães enlutadas”. Outras fontes de pesquisas foram revistas, jornais e livros impressos com ênfase em depoimentos. Foi possível definir tipos de regularidade nas enunciações permitindo agrupá-las em oito categorias: definição do luto; concepção de superação; descrição da dor; proteção maternal; negação do fato; reflexão sobre a morte, fé e de sua influência no enfrentamento do luto; e o clamor por justiça. Na voz materna evidencia-se o despreparo existencial para lidar com a circunstância que se apresenta como uma realidade árdua e imutável, decifrável como algo irreparável em todos os seus significados e sentidos. Tal análise distinguiu ainda os diversos “eus” que as mães ocupam no luto, valorizando sua singularidade como forma de identidade; narrativas de vida que se misturam ao discurso que dá vida ao luto. Uma realidade social que confere às mães enlutadas uma linguagem comum em sua descrição, através do sentido que elas atribuem ao enunciado, favorecendo, assim, à compreensão de suas posições materializadas pelas entrevistas, onde a morte do filho atribui à maternidade a dor da perda e a necessidade da consciência da transitoriedade humana. As concepções categorizadas como de “senso comum” podem auxiliar nos conhecimentos que sejam facilitadores para as reflexões que circunda a morte de filhos, visando o aprimoramento da assistência aos pais enlutados, com benefícios no enfrentamento do luto e na saúde. Uma reflexão que merece entendimentos por suscitar respostas que vão além do que se concebe pelas ideologias do cotidiano, por remexer em valores e crenças, tanto, quanto, por interferir nas respostas orgânicas e psíquicas do organismo, cujos reflexos os são sentidos na enunciação que emerge destas vozes. |