Resumo |
Hugo/Muriel é um/uma personagem criada por Laerte Coutinho, cartunista de renome no Brasil. De acordo com Laerte, Muriel pode ser considerada a sequência de um personagem chamado Hugo, que existe desde a década de 90, ou mesmo uma parte dele. Muriel surge nas tirinhas no ano de 2004, no jornal “Folha de São Paulo”, quando Hugo decide se travestir e passa a assumir uma identidade crossdresser. As histórias vivenciadas por Hugo/Muriel ao longo das tirinhas retratam as experiências vivenciadas por muitas pessoas transgêneras. As novas relações que se estabelecem no cotidiano da personagem e as temáticas abordadas por Laerte nos proporcionam um vasto arcabouço de elementos para se realizar diversas reflexões e discussões que permeiam os estudos de gênero. Partindo do pressuposto de que Laerte apresenta ao público leitor discussões que desnaturalizam determinadas inferências sobre sexo, gênero e orientação sexual, rompendo com diversos estereótipos e preconceitos que são muitas vezes tidos como verdades na sociedade Ocidental, o presente trabalho tem por objetivo identificar as abordagens sobre corpo, gênero e sexualidade presentes nas tirinhas e analisá-las sob a luz de teorias feministas, antropológicas e queers. Para este fim, utilizamos um universo de 232 tirinhas devidamente selecionadas do site “murieltotal.zip.net”, postadas entre março de 2009 e abril de 2013 pela cartunista Laerte Coutinho. As tirinhas de Hugo/Muriel mostram-se como um instrumento de suma importância ao colocar, de maneira humorada e com uma linguagem acessível, o debate de gênero na esfera pública de modo à desnaturalizar determinadas noções, como a de linearidade entre sexo, gênero e orientação sexual. Desta maneira, diversas violações sofridas por pessoas transgêneras ganham visibilidade com o trabalho da cartunista. Para além de tais violações, diversos outros aspectos da vivência transgênera são abordados, tais como os processos de “montagem”, a utilização de hormônios, entre outros. A forma como Hugo/Muriel se “monta” e constrói suas formas de identificação demonstra as diversas possibilidades que o sujeito possui para além da norma. O corpo é apresentado como ferramenta no questionamento do destino traçado para o gênero a partir do sexo. Ele é ativo na construção das identidades, que podem transitar entre o masculino, feminino e criar novas formas de corporeidade. |