Resumo |
Apresentamos aqui os resultados de nossa investigação a respeito da semântica das locuções prepositivas espaciais abaixo de e acima de do PB, com o objetivo de analisar e descrever amostras com base em características geométricas, topológicas e pragmáticas, a fim de obter um conceito baseado em semelhanças de família (WITTGENSTEIN, 1999 (1953)) que melhor descreva o significado dessas locuções no uso da língua. Para a realização dessa pesquisa, usamos o corpus CETENFolha, do Projeto Linguateca, que nos forneceu 1669 amostras de abaixo de e 3155 de acima de em usos autênticos, das quais foram separadas e analisadas respectivamente 89 e 123 usos espaciais em que se pudesse identificar fisicamente os dois objetos relacionados. Baseamos nossa investigação na perspectiva da Linguística Cognitiva, que concebe dois objetos relacionados espacialmente como estando em assimetria conceitual. O objeto primário é denominado trajetor e o objeto secundário, marco. Adotamos como referencial teórico de maior relevância a obra do linguista C. Vandeloise (1991), com ênfase nos seus estudos das locuções prepositivas do francês au-dessous de/ en dessus de, cujo enfoque encontra-se no papel de elementos extralinguísticos na semântica de preposições espaciais. Nossas categorias de análise foram ordem no eixo vertical, contato, dimensões do trajetor e do marco e acesso à percepção visual. A ocorrência isolada de cada uma dessas características no uso da língua foi o critério que empregamos para considerá-la essencial à semântica da preposição. Concluímos que a orientação vertical, de fato, é uma característica relevante para a semântica dessas duas locuções e que a localização do trajetor e marco ao longo do mesmo eixo vertical apresenta-se como mais prototípica. O contato entre marco e trajetor nos usos espaciais apareceu de forma escassa e irrelevante para a semântica dessas expressões. As dimensões do trajetor e do marco não formam um característica essencial e definidora do uso. Entretanto, o fato de frequentemente o objeto na posição inferior ser maior confirma a assimetria entre trajetor e marco, como observa Talmy (2000). Quanto ao acesso à percepção visual, concluímos que a ocultação do trajetor pelo marco é condição necessária para a semântica de abaixo de nos casos em que os dois objetos não estejam alinhados verticalmente ou em trajeto descendente. Nos usos de acima de, não há ocultação do trajetor pelo marco, evidenciando, novamente, a assimetria entre essas duas locuções prepositivas. Diferentemente de sob/sobre, abaixo de/ acima de não codificam relações espaciais entre objetos dispostos em um eixo ortogonal. |