Resumo |
Este é um estudo piloto do meu projeto de mestrado: Identidades femininas e trabalho doméstico - um estudo de caso de mulheres migrantes do Bairro Santo Antônio, Viçosa-MG, o piloto foi desenvolvido a partir de um caso, por meio do qual busquei validar e/ou ajustar as técnicas para a coleta de dados a serem então utilizadas posteriormente na consecução do trabalho de campo. O objetivo do projeto é estudar o processo de construção das identidades femininas a partir do estudo das representações sobre o que significa ser “mulher", dentro destas, um destaque às representações do lugar social e de poder do trabalho doméstico, na construção dessa identidade, tendo como marco a mudança sócio espacial, dada na migração rural/urbano. Maria, hoje com 65 anos de idade, migrou da zona rural da cidade de Araponga-MG para Viçosa-MG, onde reside há 20 anos. Fundamentada pela pesquisa qualitativa realizei observações diretas e quando necessário entrevistas abertas. As observações se deram no espaço doméstico, como também os demais locais e grupos dos quais participa cotidianamente, no período de um mês. As entrevistas ocorreram em forma de conversas e foram gravadas em áudio, com a devida permissão; e simultaneamente, as observações do cotidiano e das atividades domésticas dessa mulher. Este estudo me possibilitou conhecer a história de vida dessa mulher migrante, o seu cotidiano, as suas representações sobre o trabalho doméstico, bem como a sua construção identitária. Por meio das falas e das observações, percebi que as representações dessa mulher sobre o trabalho doméstico estão associadas às relações afetivas, fundamentadas pela sua “disponibilidade” materna e conjugal, sendo esse trabalho ideologicamente aprendido e reproduzido às demais mulheres da sua família. Apesar de ter vivenciado uma mudança sócio espacial, que transformou o seu modo de viver e o seu cotidiano, essa mulher ainda acredita que o trabalho doméstico e o cuidado com os membros da família são responsabilidades femininas. A sua identidade foi construída pelo seu sentimento de pertença a determinados grupos sociais, como a família e a igreja; pela relação com o “outro”, principalmente com os membros da família; pelo seu pertencimento ao rural, mesmo após a sua migração; e, pela ideologia patriarcal e capitalista que a relegou ao trabalho doméstico e ao cuidado da família. Por meio desse estudo foi possível validar as técnicas elencadas para a pesquisa - a observação e a entrevista, que se mostraram adequadas aos objetivos propostos, possibilitando compreender as sutilezas, as contradições e também as estratégias de poder/submissão na dinâmica das relações interpessoais e ideológicas enquanto pertencentes ao que se convencionou denominar "ser mulher". O marco teórico do cotidiano de José Machado Paes e da dinâmica do poder de Foucault, possibilitam um norteamento efetivo para o embasamento teórico do trabalho. |