Resumo |
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), condição crônica altamente prevalente, é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento e progressão da Doença Renal Crônica (DRC), que é considerada um grave problema de saúde pública em todo o mundo. A prevalência de DRC vem aumentando mundialmente, com incremento anual de 8 a 16%, que é maior do que o crescimento populacional geral. No Brasil, segundo o censo de 2013, 10 milhões de indivíduos possuem algum grau de alteração renal, tendo como agravante, o fato de ser uma enfermidade desconhecida por muitos portadores. Infelizmente, a DRC é subdiagnosticada e tratada inadequadamente, em especial em nível de Atenção Primária à Saúde (APS), resultando em evolução desfavorável e alto custo do tratamento. Neste contexto, há que se salientar o papel estratégico e primordial dos profissionais que atuam na APS no diagnóstico precoce e encaminhamento dos pacientes a unidades de maior nível de complexidade e/ou especialistas. A adoção da Estratégia Saúde da Família (ESF) como política prioritária da APS no Brasil, por sua conformação e processo de trabalho, compreende as condições mais favoráveis de acesso às medidas multissetoriais e integrais de abordagem da DRC. Sendo assim, o objetivo do estudo foi identificar a prevalência de DRC oculta em portadores de HAS cadastrados na APS. Trata-se de um estudo transversal com os portadores de HAS acompanhados pela ESF de Porto Firme, Minas Gerais, em 2012 e 2013. Participaram do estudo 293 indivíduos, correspondendo a 42% dos portadores de HAS do município. A coleta de dados se deu por meio de entrevistas, avaliações bioquímica e antropométrica. Para a identificação da ocorrência de DRC, utilizou-se a fórmula CKD-EPI, que é atualmente recomendada pelo Ministério da Saúde. Utilizou-se o teste de qui-quadrado de Pearson ou teste exato de Fisher para comparação de proporções e foram estimadas razões de prevalência e os intervalos de confiança de 95% para as associações entre variáveis explicativas e a DRC. Encontrou-se que a maioria dos indivíduos avaliados era do sexo feminino (74%), idosos (69%), com baixa renda (90%), baixa escolaridade (84%) e com excesso de peso (66,9%). Encontrou-se prevalência de DRC de 38,6% (IC 95%: 33,0 - 44,2), sendo que, aproximadamente 14% estavam em estágio avançado da doença. Ao comparar as variáveis nos diferentes estágios, observou-se relação estatisticamente significante da DRC com idade, escolaridade, uso de álcool, excesso de peso, risco cardiovascular, creatinina e microalbuminúria. Quanto à razão de prevalência, observou-se associação estatisticamente significante com idade e creatinina. Conclui-se que a elevada prevalência de DRC ratifica a necessidade de capacitação da equipe de saúde envolvida no tratamento da HAS na APS, fomentando a prevenção e diagnóstico da DRC nos estágios iniciais. |