Resumo |
A língua guarda marcas dos usos culturais aos quais é submetida. Uma das principais formas de se verificar esse fato é através da toponímia, ou seja, do estudo dos nomes de lugar: afinal, eles são elementos lingüísticos presentes no cotidiano das pessoas, e que são parte da história dos lugares. No presente trabalho, pretendemos mostrar como os Antropotopônimos (nomes de lugar os quais homenageiam uma pessoa) estão intimamente ligados à história de Minas Gerais, buscando analisar, sobretudo, dois momentos do desenvolvimento histórico do estado: o século XVIII (através de um conjunto de sete mapas) e a atualidade. No que tange o setecentos, recolhemos 28 nomes e os analisamos segundo o indivíduo homenageado, sua origem geográfica e profissão. Chegamos à conclusão de que nessa época, a escolha de antropotopônimos esteve ligada a duas motivações principais: 1. Havia um grupo de localidades cujos nomes lembravam os de bandeirantes, grandes mineradores e importantes sesmeiros, personagens do desbravamento e da construção do território do futuro estado. 2. Os nomes que homenageavam o rei ou seus familiares, buscando-se, com essas escolhas, obter vantagens junto à coroa. Várias cidades, inclusive, foram “honradas” com um nome régio para expressar o seu valor e fidelidade à coroa, como foi o caso da Vila do Carmo, que, ao se tornar a primeira cidade de Minas, passou a ser chamada de Mariana, em homenagem à rainha consorte da época. Já para a antropotoponímia atual, foram recolhidos 172 nomes (sendo estes apenas de sedes de municípios), tendo sido investigados, além dos precedentes dados, a época em que o nome atual foi escolhido, a maneira de escolha (lei estadual, municipal, mudança espontânea) e outras informações. Quanto às profissões, descobrimos que vários dos homenageados pertenciam às camadas superiores da sociedade, sendo quase 1/3 de políticos e quase 1/6 de profissionais liberais. Entretanto, personagens da história do município e de sua fundação também são importantes, concentrando quase 1⁄4 dos nomes. Também houve exceções, como os casos de homenageados indígenas, escravos e “vaqueiros”. Quase 40% dos homenageados nunca moraram nas cidades que levam seus nomes, o que denota uma possível imposição política dessas nomenclaturas; suspeita essa que é reforçada pelo fato de que quase metade das mudanças de nome para antropotopônimos ocorre quando da emancipação do município, e a maioria desses nomes novos são de políticos sem relação com a cidade, o que pode indicar que essas alterações provêm de conchavos políticos. Também encontramos que quase 2/3 dos nomes não são originais, mas alterações posteriores, a maioria tendo ocorrido entre a década de 30 e de 50, período de influência dos “coronéis” locais. Ademais, a concentração da maioria dos antropotopônimos está na Zona da Mata e Sul de Minas, áreas de maior força política nessas épocas. Portanto, pôde-se verificar que os nomes de lugar guardam estreita relação com as estruturas de poder locais. |