Resumo |
O grande desafio da civilização moderna neste novo século é se tornar uma sociedade mais sustentável baseada em necessidades mais realísticas e por um uso mais racional dos recursos naturais. As indústrias do setor de Celulose e Papel têm intensificado esforços na busca de uma melhor utilização dos recursos naturais, visando-se o aumento da eficiência de processo e ao mesmo tempo buscando fontes energéticas mais limpas, o que também reduz a pressão sobre áreas de plantios. Nesse sentido, a geração de resíduos da indústria sucroalcooleira surge como fonte de matéria-prima para a indústria de celulose e papel. Os principais resíduos oriundos da indústria sucroalcooleira são o bagaço e a palha, ambos materiais fibrosos lignocelulósicos. Este trabalho tem como objetivo avaliar a possibilidade da utilização dos resíduos da cana-de-açúcar (bagaço e palha) em indústrias de celulose kraft de eucalipto aplicando o conceito de biorrefinaria florestal. Foram utilizados bagaço e palha da cana-de-açúcar. As metodologias utilizadas seguiram norma TAPPI e normas internas do Laboratório de Celulose e Papel da Universidade Federal de Viçosa. Percebeu-se que glicanas, xilanas e ligninas são os principais componentes desses materiais, com valores de 41,8%, 24,8% e 21,4% para o bagaço e 41,4%, 26,0% e 16,2% para a palha, respectivamente. A relação lignina S/G (siringil/guaiacil) do bagaço (51/49%) é mais favorável para desconstrução química do que a da palha (31/69%). Esta apresentou valores elevados de cinzas (7,9%) e sílica (5,8%) em relação ao bagaço (2,3% cinzas e 1,4% sílica). Os teores de extrativos totais do bagaço e da palha foram de 15,0 e 12,2%, respectivamente. As densidades básicas e à granel do bagaço foram de 131 e 76 kg/m3 e da palha foram de 173 e 64 kg/m3, respectivamente. Já as análises morfológicas dos materiais os caracterizam como fibra curta, com comprimentos médios de 1,59 e 1,61 mm para bagaço e palha, respectivamente. No processo de polpação, obteve-se um rendimento bruto de 49,21% para o bagaço e 40% para a palha, sendo o número kappa de 13,46 para o primeiro e 15,06 para o segundo. Nas análises químicas da polpa, obteve-se 8,4% de extrativos, 1,65% de lignina total, 50,73% de glicanas, 20,80% de xilanas e 1,51% de arabinanas para o bagaço e 8,59% de extrativos, 5,97% de lignina total, 50,00% de glicanas, 17,20 % de xilanas,1,70% de arabinanas para a palha. Nas análises físico-químicas da polpa, obteve-se 12,0 º SR, 39,6 % ISO de alvura, 7,9 kNm/kg de índice de tração, 0,30 kPam²/g de índice de estouro e 0,089 Mnm²/g de índice de rasgo para o bagaço e 13,0 º SR, 30,3 % ISO de alvura, 2,78 kNm/kg de índice de tração, 0,14 kPam²/g de índice de estouro e 0,077 Mnm²/g de índice de rasgo para a palha. Concluiu-se que bagaço e palha da cana-de-açúcar apresentaram grande potencial de aplicação na indústria de polpa de celulose, especialmente utilizando-se o conceito de biorrefinaria. |