Resumo |
O presente estudo partiu da perspectiva embasada na noção de “diferença” dada ao “Corpo Surdo”, contrapondo a noção de “deficiência” e/ou “disfunção”. Considerou-se, também, as relações sociais percebidas a partir da LIBRAS, manifestada de modo visuo-espacial, capaz de possibilitar um olhar a partir do outro, acessando a experiência da surdez através dos modos semióticos de atenção promovidos pelo Corpo. Para tanto, com base numa abordagem socioantropológica buscou-se elucidar o processo de constituição linguística da LIBRAS e suas influências internas e externas desempenhadas pelos agentes surdos em Viçosa, MG, evidenciadas durante o trabalho de campo. Esta pesquisa se fundamentou no método etnográfico e nas técnicas de observação participante, diário e caderno de campo, entrevistas qualitativas semi-estruturadas e aprofundadas e recurso visual. No início do campo fora feito um mapeamento de uma rede/malha comunicativa Surda na cidade, envolvendo ouvintes intérpretes da Língua Brasileira de Sinais e Surdos usuários da LIBRAS. A partir desse mapeamento foi possível observar as interações e as relações face a face desempenhadas pelos Surdos, mencionados pelos intérpretes, no interior da rede/malha. Com base nas narrativas dos três Surdos-Líderes, analisou-se o papel de cada um, no agenciamento da LIBRAS no interior dos espaços religiosos e sua constituição identitária. Utilizou-se como dimensões para análises os conceitos “identidades surdas”, “cultura surda”, “espaço religioso”, “corpo surdo”, “corporalidade surda” e “LIBRAS”. Conclui-se que a LIBRAS, veio oficialmente para Viçosa através de iniciativa da Igreja Batista (1999), formando os primeiros intérpretes dessa Língua que atuam até hoje no município. Nesse sentido, o espaço religioso se caracteriza como um ponto articulador de difusão e ensino aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais em Viçosa, passando em 2010 a dividir essa posição com a UFV. Além disso, foi possível perceber a representação de mundo e do próprio corpo dado pelos Surdos participantes da pesquisa e usuários da LIBRAS. Foi possível compreender o processo de construção dos significados e significantes expressos nos sinais para a representação imagética de ser/estar no mundo. Também foi possível acompanhar a performance que é mobilizada através da LIBRAS no espaço da Igreja Batista e suas influências internas (na fonologia) e externas (na difusão e naturalização da língua). |