Resumo |
Este estudo objetiva refletir sobre o produtivismo acadêmico, considerando que o mesmo reflete a influência das políticas de avaliação da educação superior sobre o trabalho docente universitário. Realizamos uma pesquisa de campo com três coordenadores da pós-graduação stricto sensu de uma Universidade Federal, no estado de Minas Gerais, com a finalidade de compreendermos como se dá o trabalho desses profissionais. Utilizamos o questionário para a coleta de dados e abordamos questões como: publicação de artigos e livros; publicação em editoras reconhecidas no Qualis/Capes; pressão ou cobrança para maiores publicações; equilíbrio entre atividades de ensino, pesquisa e extensão; trabalho nos feriados e finais de semana; avaliação da adequação do número de técnicos administrativos; avaliação trienal da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior); dedicação ao trabalho na pós-graduação e uso de medicamentos para estresse. Buscamos apoio na literatura para a compreensão do produtivismo acadêmico e para a análise dos dados, usamos a análise de conteúdo. A análise enfatiza o papel do controle burocrático das agências de fomento à pesquisa, a exemplo da CAPES na conformação do trabalho universitário, visto atualmente como refém de uma lógica produtivista, que valoriza muito mais os produtos, sobretudo publicações, do que os processos e a qualidade do trabalho desenvolvido na universidade. Mesmo com uma cobrança intensificada por parte da CAPES por maiores publicações, os coordenadores consideram que esta é necessária. Nem todos afirmaram existir o equilíbrio entre a pesquisa, ensino e extensão. Alegaram trabalhar nos feriados e fins de semana. Quanto ao número de servidores técnico administrativos não houve um consenso em relação às respostas assim como em relação à avaliação trienal da CAPES, porque para alguns esta se faz necessária para atingir a condição de excelência. Alguns coordenadores mencionaram haver uma maior dedicação ao trabalho na pós-graduação. Asseguraram não fazer uso de nenhum medicamento para controlar a ansiedade e o desgaste físico e psíquico, ocasionado pelo estresse no trabalho. Concluímos que os coordenadores são favoráveis às cobranças impostas pela CAPES, trabalhando de acordo com os padrões exigidos. Como consequência há uma intensificação e a precarização das condições de trabalho nas universidades, delineando um novo perfil para a profissão acadêmica, pressionada pelas políticas para a educação superior e pelos processos avaliativos. Estas políticas têm comprometido a autonomia do campo intelectual, gerando dicotomias, assimetrias e hierarquias entre ensino, pesquisa e extensão, graduação e pós-graduação, professores e pesquisadores. |