Resumo |
Astyanax é um dos gêneros de peixes neotropicais de maior distribuição, sendo encontrado do Sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Um de seus representantes, Astyanax rivularis, é uma espécie distribuída na bacia do Rio São Francisco (Minas Gerais, Brasil), pertencente ao complexo de espécies Astyanax scabripinnis. São peixes de pequeno porte que tendem a viver nas cabeceiras dos rios, e devido a suas características morfológicas e comportamentais geralmente se concentram em isolados populacionais e geográficos. Tais isolados comumente diminuem o fluxo gênico, aumentando a diferenciação entre as populações, possibilitando a construção da filogeografia do grupo, que visa entender como ocorreu a distribuição da espécie ao longo da bacia que ocupa. Assim, o presente trabalho objetivou construir a filogeografia de oito populações de Astyanax rivularis utilizando dados de sequências dos genes mitocondriais da ATP sintase subunidades 6/8. Para a análise utilizou-se DNA extraído de oito populações de A. rivularis coletadas ao longo da bacia do Rio São Francisco. Utilizando-se desse DNA foram realizadas reações em cadeia da polimerase (PCR) para amplificação do gene mitocondrial ATPase subunidades 6/8 com os primers ATP 8.2_L8331 e CO3.2_H9236. As amostras amplificadas foram enviadas para sequenciamento, as sequências obtidas alinhadas e, utilizando-se do software Network 4.6®, gerou-se uma rede de haplótipos, que permite realizar inferências a respeito da distribuição e dispersão da espécie. O provável centro de dispersão de A. rivularis é representando pelo haplótipo de maior frequência. A impossibilidade de determinar uma população específica é problema recorrente na filogeografia de peixes, principalmente quando estes apresentam altas taxas de migração. Algumas populações apresentaram alta diversidade haplotípica, como a de Vereda Grande e rio Abaeté. Outras, como as populações do córrego Lage e Tiros formaram haplogrupos bem estruturados, evidenciando seu maior isolamento. A conexão entre os rios mostrou-se como o principal fator influenciador na ligação entre populações, fato já observado por outros pesquisadores. Entretanto, populações separadas pela represa de Três Marias, notadamente Rio do Boi, apresentaram-se agrupadas com populações as quais não possuem conexão. Tal fato pode ser explicado pela existência de pontos de conexão entre esses rios no passado, que foram perdidos devido ao levantamento da represa. O gene da ATPase mostrou-se eficiente para a construção da filogeografia das populações amostradas. A distribuição dos haplogrupos, no geral, condiz com a distribuição geográfica e conectividades dos rios. A ampliação do número de locais de coleta seria de grande valia para esclarecer completamente a história da distribuição da espécie. |