Resumo |
No campo da Administração, nos últimos anos vem se verificando um aumento do número de mulheres nas posições gerenciais nas organizações de diversos setores, o que amplia as possibilidades de investigação conjuntas destas duas temáticas – gênero e administração. Partindo disso, o presente projeto propõe uma investigação acerca das identidades de gênero de mulheres que atuam como gestoras em organizações do Agronegócio no Alto Paranaíba - MG. Conjugada à noção de divisão sexual do trabalho e à visão de agronegócios que vem se firmando em relação às atividades desenvolvidas ao longo de toda a cadeia produtiva, encontram-se mulheres que estão à frente destes negócios, como proprietárias, diretoras e gerentes de fazendas, revendas de insumos e produtos, agroindústrias. O objetivo geral da pesquisa foi analisar a articulação entre a construção de feminilidades e a participação de mulheres na gestão de organizações ligadas ao agronegócio na região do Alto Paranaíba – MG. Especificamente, buscou-se compreender como os vetores corpo, trabalho relações de poder são articulados na vida dessas mulheres. Como escopo da pesquisa definiu-se as 14 cidades da região mencionada que estão dentro das 50 cidades com maior PIB Agropecuário do Estado. A abordagem metodológica escolhida foi a qualitativa. A coleta dos dados ocorreu por meio de entrevistas semi-estruturadas com gestoras de organizações ligadas ao agronegócio. As entrevistas foram transcritas e submetidas à análise de discurso. As entrevistas indicaram que por diversas razões as mulheres (“empreendedoras”, “filhas do dono”, “esposas do dono”, “viúvas”) tem se inserido nas atividades agrícolas e que a tendência, pela gestão que têm implantado, é que só cresça essa participação. A disciplinarização a que o corpo das gestoras do agronegócio está submetido, manifesta-se de formas sutis, como em supostas maneiras mais prudentes de se relacionar, de se vestir adequadamente (para cada ambiente- “cidade”, “campo” e demanda do dia- “banco”, “comércio”, “orientar subordinados”) e, sobretudo, de evitar o assédio, já que trata-se de um ambiente "masculino". Quanto ao trabalho, destaca-se que a maioria delas tem muito bem demarcado em suas carreiras os momentos determinantes para assumirem os cargos que ocupam atualmente no agronegócio (“falecimento do marido”, “falecimento do pai”, “trabalhar com o pai”, “trabalhar com a família”, “encerramento de sociedade empresarial”). Na análise das relações de poder, voltou-se para os papeis sociais desempenhados por mulheres com base em construções incrustadas acerca de expectativas de comportamentos, como ser a “encarregada” pelo cuidado com os filhos e marido, mesmo diante do trabalho na esfera pública. Assim, quanto às suas feminilidades, verificou-se que o meio rural é determinante nas estratégias adotas nas relações de trabalho, poder e utilização do corpo, para atender às diversas demandas destas mulheres na gestão de organizações do agronegócio. |