Resumo |
A microbiota do solo, essencial ao equilíbrio e à produtividade dos ecossistemas agrícolas, é sensível às alterações provocadas pelos diferentes manejos do solo, como o uso de defensivos químicos. O glifosato, molécula sistêmica de amplo espectro largamente utilizada como princípio ativo de herbicidas, pode afetar organismos não-alvos; assim, é vital compreender seus possíveis impactos na abundância e diversidade microbiana edáfica. Assim, o presente estudo tem como objetivo avaliar, in vitro, os efeitos da aplicação do glifosato sobre a quantidade e diversidade da microbiota edáfica. O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 4x4 (dose de glifosato x tempo de reação), em triplicata, totalizando 48 unidades experimentais (u.e.). O ensaio foi realizado no Laboratório de Microbiologia da UFV-CAF. Cada u.e. consistiu em 100 g de solo xenomórfico composto, coletado sob vegetação nativa e ajustado a 60 % da capacidade de campo. As doses aplicadas corresponderam ao controle (0x); 1,0x; 1,1x e 1,5x a dose recomendada de glifosato Roundup original (360 g/L), simultâneamente. As análises foram realizadas aos 0, 24 h, 3 e 7 dias após a aplicação, por meio de diluições em série até 10⁻⁴, sendo aliquotada 1 mL da solução em placas de Petri com ágar BDA + ágar nutriente, totalizando 144 placas. Após incubação por sete dias a 20 °C e ausência de luz, quantificaram-se as UFCs de fungos e bactérias, com base na morfologia e estimou‑se a diversidade pelo índice de Shannon. Os dados foram submetidos à ANOVA e as médias comparadas pelo teste de Tukey (p < 0,05) pelo software Rbio. Os resultados demonstraram que, para fungos, apenas o tempo de exposição influenciou significativamente o número de UFCs, com maior crescimento observado aos 7 dias após o tempo de incubação. Para bactérias, houve interação significativa entre dose e tempo, mais precisamente para o tempo de 7 dias, em que as doses de 1,0x, 1,1x e 1,5x promoveram aumentos expressivos nas UFCs em relação ao controle, cujas médias foram 64,55; 107,22; e 116,11 contra 4,33, respectivamente. Nos demais tempos, não foram observadas diferenças significativas. A diversidade microbiana não foi afetada pelas doses nem pelos tempos avaliados. Como conclusão, sugere-se que o herbicida não atuou como inibidor, mas possivelmente como fonte de carbono e fósforo para o desenvolvimento bacteriano. A significativa elevação de UFCs bacterianas em maior tempo de exposição, sobretudo em doses superiores à recomendada, indica adaptação e potencial capacidade degradativa desses microrganismos ao glifosato. Para fungos, o aumento exclusivo em função do tempo reforça a resistência estrutural e/ou enzimática dessas populações, independentemente da dose. Em suma, o glifosato, ao ser incorporado como substrato metabólico, favoreceu o crescimento microbiano, o que corrobora estudos que apontam microrganismos edáficos capazes de degradar e utilizar o herbicida como recurso energético. |