Resumo |
A gestão dos resíduos sólidos urbanos, especialmente os plásticos, tornou-se um dos problemas mais graves do século XXI. Segundo projeções da Ellen MacArthur Foundation, se nada for feito, até 2050 poderá haver mais plástico do que peixes nos oceanos em termos de peso. Essa estimativa alarmante reforça a urgência de repensar o modelo atual de produção e descarte. Além disso, um estudo conduzido pelo WWF aponta que cerca de 10 milhões de toneladas de plástico vazam para os oceanos todos os anos. Se a produção global continuar crescendo no ritmo atual, a poluição plástica nos oceanos pode quadruplicar até 2050. Este estudo tem como objetivo problematizar a indústria da reciclagem no Brasil, expondo suas contradições e os interesses que a sustentam. Por meio de revisão sistemática de literatura, serão analisadas pesquisas existentes que abordem criticamente as múltiplas camadas que envolvem o discurso da reciclagem no Brasil. Para isso, serão analisadas publicações científicas dos últimos cinco anos, a serem buscadas no Scielo e Portal Capes. Caso seja necessário, a pesquisa também poderá ser expandida para o Google Acadêmico. Nossa hipótese é que muitas vezes este discurso é usado como ferramenta de marketing para mascarar práticas nocivas e evitar mudanças estruturais. De acordo com o Atlas do Plástico 2020, entre 1950 e 2017 foram produzidas cerca de 9,2 bilhões de toneladas de plástico, das quais apenas 9% são recicláveis. Neste contexto, observamos que muitas corporações perceberam que a preocupação ambiental influencia o consumo e passaram a investir em marketing verde, com frases como “100% reciclável” ou “amigo do planeta”. Na prática, trata-se de greenwashing: os rótulos indicam reciclabilidade, mas o reaproveitamento é limitado. Segundo relatório do WWF (2019), apenas 20% dos resíduos plásticos mundiais são coletados para reciclagem; o restante é incinerado, descartado irregularmente ou exportado ilegalmente. Fatores como pigmentação, contaminação, falta de infraestrutura, ausência de mercado comprador e altos custos operacionais dificultam a reciclagem real. Além disso, há uma transferência de responsabilidade: as empresas se isentam dos impactos das embalagens e colocam sobre o consumidor o dever de separar e descartar corretamente, mesmo sem controle sobre o destino final. Outra estratégia recorrente é o uso de lobbies políticos para influenciar leis ambientais, adiar regulamentações e evitar responsabilização da indústria. Esses lobbies protegem interesses econômicos, mesmo que isso comprometa o meio ambiente e perpetue um modelo insustentável. Acreditamos que a verdadeira transformação exige mudança radical no modelo produtivo, redução de embalagens, adoção de materiais biodegradáveis, promoção da economia circular e responsabilização por todo o ciclo dos produtos. A mudança precisa ser ética, sistêmica e liderada por quem domina a cadeia industrial produtiva. |