Resumo |
Os sistemas agroflorestais (SAFs) são estratégias de uso da terra que integram, em uma mesma área, espécies agrícolas e arbóreas. Esses arranjos têm sido associados à melhoria das propriedades físico-químicas do solo, em função do elevado aporte de matéria orgânica (MOS), o qual contribui para o aumento dos estoques de carbono orgânico do solo (ECOS), favorecendo a mitigação das mudanças climáticas. Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo comparar os ECOS entre uma área com sistema agroflorestal e uma área sem esse manejo, ambas localizadas na Universidade Federal de Viçosa – Campus Florestal. O SAF foi implantado em 2022, com disposição em linhas, incluindo espécies arbóreas nativas, frutíferas, leguminosas e culturas de tubérculos. Já a área utilizada como testemunha não recebe manejo específico, apresentando cobertura contínua de vegetação espontânea, composta predominantemente por gramíneas. Para tanto, foram coletadas amostras deformadas e indeformadas do solo, na profundidade de 0 a 100 cm, em nove pontos amostrais dispostos em grade 3×3 em cada área. O teor de carbono orgânico foi determinado por método adaptado de Yeomans & Bremner (1988), e a densidade do solo, pelo método do anel volumétrico. A partir desses dados, foram calculados os ECOS. Os resultados foram submetidos aos testes de Shapiro-Wilk e Levene, seguidos de análise de variância, todos realizados no software R. Na camada de 0 a 30 cm, os ECOS foram semelhantes entre as áreas, possivelmente devido ao curto tempo de implantação do SAF (3 anos), que ainda não permitiu acúmulo expressivo de matéria orgânica na superfície. Esse resultado pode ainda estar relacionado à presença de vegetação espontânea na testemunha, composta principalmente por gramíneas, que proporcionam aportes de MOS mais restritos às camadas superficiais. No entanto, nas camadas de 0 a 50 cm e de 0 a 100 cm, o SAF apresentou maiores ECOS, com 96,6 Mg ha⁻¹ e 173,0 Mg ha⁻¹, respectivamente, em comparação à área testemunha, que apresentou 77,52 Mg ha⁻¹ e 123,61 Mg ha⁻¹ nas mesmas profundidades. Esses resultados indicam contribuição significativa para o sequestro de carbono em profundidade, que pode estar relacionado à incorporação de carbono proveniente do sistema radicular, sobretudo das espécies arbóreas, que possuem maior capacidade de exploração do perfil do solo, e das leguminosas, conhecidas por seu rápido desenvolvimento. Embora o sistema ainda seja recente, os dados demonstram o potencial dos SAFs para aumentar os ECOS, especialmente nas camadas mais profundas. Com a evolução do sistema e o fechamento do dossel, espera-se maior acúmulo de serrapilheira e, consequentemente, um incremento mais expressivo de MOS e de carbono nas camadas superficiais do solo, reforçando o papel dos SAFs como estratégia promissora para a mitigação das mudanças climáticas. |