Resumo |
As áreas de silvicultura de eucalipto são popularmente conhecidas como “desertos verdes”. Entretanto, há relatos da regeneração natural de espécies da flora nativa no sub-bosque destas áreas, podendo constituir-se num refúgio de biodiversidade regional. Este trabalho teve por objetivo avaliar a regeneração natural arbórea sob floresta plantada de eucalipto. A pesquisa foi realizada numa área de aproximadamente 0,5 ha e com cerca de 60 anos de plantio de Corymbia citriodora (Hook.) K. D. Hill & L. A. S. Johnson, localizada no Setor de Silvicultura do Campus UFV Florestal, nas coordenadas 19o53’05.39”S e 44o25’28.15”O, e altitude de 781 metros. Realizou-se o levantamento florístico das espécies arbóreas com DAP > 5 cm presentes no sub-bosque, através de amostragem ao acaso com sete parcelas de 25 x 4 m. A suficiência amostral foi verificada pela estabilização da curva de acumulação de espécies e indivíduos. Elaborou-se estudo fitossociológico e determinou-se os grupos ecológicos e as síndromes de dispersão das espécies regenerantes. Foram identificados 109 indivíduos, de 28 espécies arbóreas, pertencentes a 12 famílias botânicas, com destaque para Fabacea e Annonaceae. A densidade estimada foi de 1.557 indivíduos ha-1, sendo considerada adequada quando acima de 1.000 indivíduos ha-1 para fins de restauração florestal. As espécies de maior importância fitossociológica (43%) foram, respectivamente: Psidium sp. (araçá); Schefflera macrocarpa (Cham. & Schltdl.) Frodin (mandioqueira); Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill. (folha-miúda); Astronium fraxinifolium Schott & Spreng. (gonçalo-alves); Matayba guianensis Aubl. (camboatá) e Plathymenia reticulata Benth. (vinhático); todas elas pioneiras ou secundárias iniciais. A distribuição das regenerantes nos grupos ecológicos foi de 32% pioneiras, 43% secundárias iniciais, 18% secundárias tardias e 7% climácicas, indicando que a regeneração natural se encontra na fase inicial do processo de sucessão florestal, com poucas espécies tardias. As síndromes de dispersão foram 40% anemocóricas, 57% zoocóricas e 3% autocóricas, atestando que o eucalipto atua como atrativo de fauna, provavelmente como poleiro para avifauna. Observou-se um decréscimo na anemocoria entre espécies tardias, enquanto a zoocoria esteve presente em todos os grupos ecológicos. A dominância da zoocoria é típica de árvores e florestas tropicais, desempenhando papel fundamental na reintrodução da biodiversidade nas áreas em processo de restauração florestal. A presença expressiva de espécies dispersas pelo vento deve-se à proximidade de fragmento preservado de Floresta Estacional Semidecidual. Os resultados demonstram o potencial de as florestas plantadas de eucalipto atuarem como facilitadoras do processo de regeneração natural, através da estruturação do dossel e criação do habitat florestal, podendo, portanto, serem utilizadas na fase inicial de programas visando à recuperação de áreas degradadas ou à restauração florestal. |