Resumo |
Esta pesquisa objetivou compreender a realização de sujeitos trabalhadores no lixo e suas táticas de justificação imaginária enquanto sujeito imerso em um contexto socialmente marginalizado. Os significados da experiência humana foram observados na dinâmica cultural de sujeitos que lidavam cotidianamente com lixo em uma Associação de Triadores de Lixo de uma cidade do interior do estado de Minas Gerais. Esta pesquisa possui como objetivo geral: compreender a realização e apreensão imaginária do sujeito trabalhador no lixo e suas táticas de evasão enquanto sujeito imerso em um contexto socialmente marginalizado. A problemática de pesquisa buscou refletir sobre a produção subjetiva do imaginário e da evasão do real sustentada pelo imaginário construído. Em relação a metodologia, foi necessário trafegar pela antropologia interpretativa com uma ancoragem na etnografia. Dentre as diversas técnicas instrumentais, utilizamos: a observação participante e o diário de campo no contato com as 12 mulheres da associação. Os resultados encontrados apresentaram muitos paradoxos, dicotomias e contradições com as “reclamações” por salário, a saída e volta da Associação por conta própria, e do cotidiano do lixo. Falas, como “aqui não tem oportunidade”, que relata a sensação de que a cidade não proporciona opções de trabalho, o fato de ser uma cidade pequena em que “todos” se conhecem, segundo o percebido influencia na não possibilidade de empregos, outra justificativa amplamente encontrada é referente a “falta de estudo”, sendo que os morados usam do discurso do alcoolismo, uso de drogas e roubos, para a não contratação dessas pessoas, foi percebido também uma tendência assistencialista, onde as mulheres esperam que órgãos governamentais as auxiliem em um futuro melhor. O principal fato do imaginário das associadas observado é no sentido de colocarem não só como importante, mas como fator de existência a contribuições delas com a limpeza da cidade. Em relação à limpeza, existe um ponto simbólico observado de grande força que é o fato de limpar a banca e a entrada da associação pelo menos na sexta feira, e algumas vezes, minutos antes de ser colocado mais lixo. A falta de rigidez de um trabalho convencional é considerada uma grande vantagem, pois não há horários nem “chefs”. E como conclusão, percebemos os sentidos que damos para a realidade de modo criativo e como mundanizamos a realidade. Como existe pouco material nessa área encontrado nas grandes revistas e periódicos, essa pesquisa não somente lida com a compreensão de um contexto social, como também um avanço na área de Estudos Organizacionais, e no uso da etnografia como ancora de metodologia, e na reumanização da verdade científica sobre as teorias produzidas nas Ciências Humanas e Sociais. |